quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Quem escreve a História II






Alguns esteriótipos vem a tona quando se fala da Amazônia. O primeiro deles em se tratando de história é justamente a noção de vazio demográfico que se implantou na região a partir do período colonial. Quando se trata da questão da construção de identidade recorre-se logo e apressadamente a figura do "caboclo" para definição do "tipo" regional. Nas palavras do Professor Balkar, uma simplificação grosseira.
Índios, missionários e colonos viviam que parece isolados, ora em aldeamentos de repartição ora em vilas dispersas pelo grande vale. O modelo deplantation não se efetivou na região, principalmente devido ao preço elevado dos escravos africanos e claro pela abundante oferta de mão-de-obra indígena.

Apesar disso, há sim indícios significativos tanto de uma presença de negros na região, que embora economicamente não tenham peso antes do chamado período pombalino, criaram estratégias de fuga, resistência e a formação de mocambos (como bem atesta Flávio Gomes, em seu artigo: Amostras Humanas...).
Qual o impacto desta relação tão próxima entre índios e negros no vale Amazônico? Uma área de fronteira, com a presença do branco colonizador, vigiando os espaços, controlando o ritmo do trabalho e impondo sua visão de mundo?
Para a historiografia o impacto se da na visão do "aculturamento", ou seja, índios e negros foram absorvidos pela cultura superior do colonizador branco. O silenciamento a respeito das relações híbridas entre estes grupos que ao contrário do que teimam em afirmar velhos e bons memorialistas, não viviam isolados no grande inferno verde que é a Amazônia.
Há que se pensar com maior cuidado a respeito de qual a identidade destes grupos que povoaram (ou despovoaram) a região. A miscigenação está longe de ser meramente biológica, ocorre de fato um hibridismo cultural, presente em determinadas fontes, sejam as oficiais, onde se recorre a classificações e rótulos típicos do século XIX para se classificar os trabalhadores "mulato, cafuzo, tapuio, preto". 

Os espaços sejam da cidade de Manaus que cresce junto com a formação da então Província do Amazonas a partir da década de 1850, são caminhos, ou talvez descaminhos, onde a presença cotidiana dos mestiços é inegável, está nos periódicos do século XIX, nas fontes oficiais dos relatórios dos Presidentes de Províncias ou nas fontes da igreja, nas listas de batismo e falecimento da cúria metropolitana.
Como vencer o rótulo de que a Amazônia é um grande vazio? de que a nossa identidade é basicamente "o caboclo" e suas variações (o ribeirinho, dentre outros?) A matriz indígena apesar de evidente é mascarada a partir do século XIX nas obras dos historiadores memorialistas, a matriz africana é silenciada devido sua "presença rarefeita". Há por trás destas ações uma ruptura com o passado da sociedade amazonense?
Afinal quem escreve a História?

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