quinta-feira, 27 de setembro de 2012

HISTÓRIAS DE JOAQUINAS: MULHERES, ESCRAVIDÃO E LIBERDADE (BRASIL, AMAZONAS: SÉC. XIX)

Este tópico crio para felicitar um dos colegas do Mestrado de História da UFAM, Ygor Olinto que conseguiu escrever um belíssimo artigo em uma revista reconhecida na área dos estudos a respeito de escravidão e africanidade. Boa leitura no link abaixo.

http://www.afroasia.ufba.br/pdf/AA_46_YCavalcantePMSampaio.pdf

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

HIP HOP NA MALOCA DOS MANÁOS: QUATRO CABEÇAS DE UMA HIDRA URBANA*



RESUMO

Este artigo tem por objetivo principal resgatar a história recente do hip hop organizado na cidade de Manaus, capital do Estado do Amazonas, através da trajetória de quatro de seus personagens. Para tanto, coletei os depoimentos destes fundadores e expoentes do que chamamos M.H.M. (Movimento Hip hop Manaus). Com uma escrita didática, represento esta cultura gestada, criada e desenvolvida nas ruas como uma Hidra Urbana, pela sua capacidade de renovação constante e enfrentamento dos problemas sociais das periferias brasileiras e que utilizou os espaços escolares para sobreviver em Manaus.

PALAVRAS-CHAVES

Movimento Hip hop, Cultura de rua, Cidade de Manaus.




Quando a Hidra emergiu dos pântanos e enfrentou Hércules



A ideia que permeia o texto surgiu através da discussão dos escritos do historiador paraense Flávio dos Santos Gomes . O pesquisador ao discutir a resistência dos escravos negros à opressão e a busca em diferentes formas de enfrentamentos e que deixaram uma lição valorosa na direção da liberdade. Os quilombos brasileiros foram entendidos como Hidras. Enquanto as autoridades imaginavam terem destruído estes refúgios, eles ressurgiam mais fortificados e assustadores. Neste sentido, também utilizo a metáfora da Hidra dos pântanos de Lerna, figura monstruosa com forma de cachorro e cabeças de cobra em longos pescoços que enfrentou Hércules em um de seus Doze Trabalhos ordenados por Eristeu e descritos na mitologia grega. Heraclés, a quem os povos latinos chamavam de Hércules, foi o filho do deus Zeus com uma princesa de Tebas chamada Alcmene. A cada investida do semideus sobre a criatura, uma cabeça era esmagada ou decepada, rapidamente outra renascia do corte mais feroz e venenosa.

Aqui retratamos cada cabeça da Hidra como um elemento que compõe o hip hop: DJ, Grafite, Break e o Rap.

Neste sentido tomei posse da idéia da refrega mitológica entre a Hidra e o semideus para transformar o monstro na representação da contradição, do destoante. O hip hop como parte integrante da cultura negra americana e hoje um fenômeno, enfrenta uma cultura poderosa, alicerçado em uma economia impiedosa, preconceituosa, discriminatória e que não cansa em utilizar todos os expedientes legais ou não para calar as vozes discordantes dos menos favorecidos e excluídos.

A Hidra surge no asfalto

Nos Estados Unidos da América da primeira metade do século XX era comum em muitas cidades ver placas de aviso No Colored Men (proibido para negros) em estabelecimentos comerciais e serviços públicos, pois a segregação racial em muitos Estados era legalizada. Portas para a entrada e saída dos negros, banheiros, bebedouros só para o uso da população afro-americana na autoproclamada maior democracia mundial.

Várias vozes levantaram-se para denunciar e enfrentar o preconceito racial, a proibição de exercer o voto, os inúmeros espancamentos, as prisões arbitrárias, o desrespeito e assassinatos dos chamados homens e mulheres de cor. Apesar da abolição dos escravos ter acontecido em 1865, os negros ainda deveriam ficar na parte de trás dos ônibus e sempre que necessário dar o assento aos brancos e viajar em pé o restante do percurso.

No dia 1º de dezembro de 1955, Rosa Louise MacCauley, militante da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP em inglês) conhecida como Rosa Parks negou-se a levantar para um homem branco e por isto foi presa, mas tornou-se um símbolo da luta antissegregacionista americana. Começava em Montgomery no Alabama um boicote contra os ônibus que durou 381 dias e o caso repercutiu por todo o país. A partir deste episódio da costureira Rosa Parks entrou em cena o ainda desconhecido líder religioso Martin Luther King Jr.

O pastor da Igreja Batista Martin Luther King Jr. em seus pronunciamentos deixou sua luta pelos Direitos Civis dos negros e da população pobre defendendo a não-violência. Pregava a desobediência civil sem atos violentos contra a discriminação racial, claramente influenciado pelos preceitos de Mahatma Gandhi, recebeu o prêmio Nobel da Paz em 1964.

Malcolm Little cresceu em um gueto e em meio à marginalidade viu seu pai ser assassinado e sua mãe apresentar problemas psicológicos que a levou ao sanatório. Iniciava ali uma carreira no crime que o conduziu ao cárcere. Durante sua estada no presídio conheceu o islamismo através de Elijah Muhammad e entrou para a história como Malcolm X, tornando-se um dos mais importantes representantes da identidade negra estadunidense. Ao contrário do reverendo King que defendia a resistência pacífica, X pregava a independência econômica, política em prol de um Estado negro autônomo e a separação das raças.

No meio de total exclusão cultural e econômica, falta de autoestima, surgiu o Partido dos Panteras-Negras para Autodefesa comandado por Huey Newton e Bobby Seale. Em 1966 começaram suas atividades, orientados por algumas idéias políticas de Mao Tsé Tung. Na realidade não se tratava de um partido político comum e sim um grupo de protesto contra violência e discriminação por parte da população branca.

Outros Panteras Negras tiveram uma participação fundamental no movimento Black Power (Poder Negro) como Geronimo Pratt, Billy Garland, Mark Clark, Harriet Tubman, Mutulu Shakur, Afeni Shakur (mãe do rapper Tupac Shakur assassinado em Las Vegas logo após a luta de Mike Tyson e Bruce Seldon no ano de 1996) e Fred Hampton que disse a célebre frase que marcou o espírito da época: “Você pode prender um revolucionário, mas não pode prender a revolução”.

Além disto, os movimentos pacifistas estavam em ebulição e em todos os lugares bradava-se a insatisfação contra a Guerra do Vietnã.

O grande lutador de boxe Muhammad Ali foi um das centenas de jovens que se negaram a partir para o combate bélico nas terras asiáticas. Apesar das retaliações governamentais continuou sua vitoriosa carreira. O pugilista olímpico foi considerado o “Esportista do Século” pela revista americana Sports Illustrated em 1999.

Não podemos deixar de entender que este período tão conturbado é explicado em parte pela chamada Guerra Fria, ou seja, a disputa ideológica e a corrida militar e armamentista em torno da hegemonia do poder mundial entre os Estados Unidos (representando o sistema capitalista) e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (defensora da alternativa comunista) que iniciou no final da II Guerra Mundial e se prolongou até 1989 com a queda do Muro de Berlim na Alemanha e com a derrocada da URSS em 1991.

Em se tratando do cenário musical, a soul music e a funk music fazia balançar e se transformou na trilha sonora das lutas mais efervescentes e trouxe um novo comportamento para os negros do E.U.A e que se espalhou para todos os cantos do mundo, só sendo suplantado pelo fenômeno da música das discotecas.

No final da década de 1970 o fenômeno das gangues juvenis tomava conta das periferias e bairros pobres da cidade de Nova York nos Estados Unidos. Nestes aglomerados urbanos onde o grande número de negros, migrantes italianos, alemães, irlandeses e sujeitos oriundos de países latinos, as péssimas condições de vida, a crise da habitação, a precariedade dos serviços públicos, a desigual distribuição de renda tornaram-se o pólvora perfeita para a explosão de uma criminalidade generalizada.

Nestas circunstâncias e na tentativa de diminuir as estatísticas criminais destas regiões e repensar a questão negra dentro de um dos países mais racistas do planeta entra em cena o hip hop.


Hip hop é o movimento sócio-cultural surgido nos guetos que consiste em quatro subgrupos ou Elementos , baseados principalmente na criatividade de seus praticantes. Estes elementos são:

DJ é o músico que utiliza as pick up´s (par de toca-discos) para criar sons e ritmos para animar as festas.


Grafite representa a arte plástica. É a expressão gráfica espalhada pelas paredes e muros da cidade utilizando a tinta spray.


M.C. (Master of Ceremony) em uma tradução livre seria o Mestre de Cerimônias, mas alguns também utilizam o termo Mic Controller (Controlador do Microfone), ele ou ela representam o canto, a voz e as mensagens do rap.


B. Boy (Garoto do break) e B. Girl (Garota do break) representantes da dança e seus principais estilos são o poppin, o lockin e b. boying.

As quatro cabeças da Hidra tomam as ruas de assalto

DJ - O hip hop tem em seu registro de nascimento a cidade de Nova York nos Estados Unidos. As palavras inglesas To hip (mexer os quadris) e To top (para cima) são utilizadas pela primeira vez pelo DJ Afrika Bambaataa em 1968 e com o tempo chegou ao termo Hip hop.


Kool Herc é considerado o “pai” do hip hop. Nascido em Kingston na Jamaica e migrando em 1967 aos doze anos de idade para a cidade de Nova York. Na mala de imigrante trouxe um certo conhecimento muito difundido em sua terra natal. O sound system (sistema de som), aparelhagem de som com alto-falantes muito potentes ligados na rua e que serviam de entretenimento musical dos guetos nova-iorquinos. Nestas block parties (festas que aconteciam nos blocos de apartamentos abandonados) surgia assim, o embrião daquilo que anos mais tarde seria denominado de cultura hip hop.


O também DJ GrandMaster Flash criou diversos recursos musicais e sonoros nos toca- discos. Mas a maior contribuição deste talentoso produtor musical junto com o The Furious Five foi um dos maiores sucessos da música em todo o circuito do hip hop, a canção The Message.

GRAFITE - Na década de 1980 do século XX, artistas vindos das ruas ganharam bastante notoriedade como Jean Michel Basquiat e Keith Herring. Seus trabalhos foram expostos em grandes galerias pelo mundo e ainda hoje são lembrados pela qualidade e criatividade de suas obras.


A palavra Grafite vem do termo italiano Graffito que significa inscrição em muros. O grafite começou com os tag’s, que são assinaturas muito utilizadas pelas gangues como código de demarcação de espaços dentro do gueto. O grafite desenvolveu-se juntamente com o hip hop e é um dos elementos mais controversos do hip hop. A necessidade de mostrar suas idéias fez do espaço urbano a grande tela para as manifestações da arte criada com rolinhos de pintura e tinta spray, por que no grafite as paredes falam.

RAP - Sigla das palavras inglesas Rhythm and Poetry (Ritmo e Poesia) é a música predileta dos militantes e admiradores do movimento hip hop. O rap nasceu na Jamaica e tem como características mais relevantes suas batidas pesadas, aceleradas e as mensagens que vêm em forma de discursos organizados em rimas.


As festas dançantes e a diversão foram muito decantadas, mas paulatinamente este espírito deu lugar a denúncia das mazelas econômicas, as desigualdades e injustiças sociais, as arbitrariedades da polícia e o preconceito racial eram os temas prediletos dos MC´s. Na década de 1980 diversos cantores e grupos de Rap surgiram e alguns se tornaram verdadeiros expoentes deste gênero musical. Podemos citar alguns como Fat Boys, Kurtis Blow, Run-DMC, L.L. Cool J e Boogie Dowm Productions.


No Brasil as informações dão conta do surgimento das primeiras rimas sendo cantadas no Metrô São Bento e na Praça Roosevelt na cidade de São Paulo, isto no início dos anos 1980.

Os Racionais Mc´s são de longe a banda mais difundida em terras tupiniquins e que colecionam diversos sucessos.


O Estado do Rio de Janeiro apesar de uma tradição de funk, também conta com um grande rapper. MV Bill, nascido e criado na comunidade Cidade de Deus tem uma carreira respeitada e ganhou vários prêmios, inclusive reconhecido pela UNICEF e UNESCO por sua militância e importância política.


Outra capital que desponta no cenário do hip hop nacional é Brasília. E três destes expoentes são o DJ Raffa (integrou os grupos Magrellos e Baseados nas Ruas), verdadeiro ícone do rap do Distrito Federal, o rapper X que junto ao DJ Jamaika formaram a banda Câmbio Negro e o poeta GOG (siglas de Genival Oliveira Gonçalves).

BREAK DANCE - Já na década de 1960 a música negra tinha um papel significativo nas periferias norte-americanas e a dança sempre foi um aspecto diferenciado deste momento, só lembrar das performances enlouquecidas e enlouquecedoras de James Brown.

Na década seguinte o estilo b. boying desenvolvido em Nova York, o popping dançado nas ruas de Los Angeles e o locking executado na cidade de Fresno também na Califórnia formou o que chamamos genericamente de break dance. Juntando influências da soul music, da funk music com os filmes de kung-fu, dança indiana, acrobacias da ginástica artística, mímicas, influências africanas e no Brasil, a inclusão de movimentos oriundos da Capoeira colaborou com a qualidade das performances dos breakdancers (dançarinos de break). A cultura das periferias como o Harlen, Brooklyn e South Bronx balançavam ao som de Tour the France de Kraftwerk, Rockit de Herbie Hancock, Street people de Fire Fox, Boogie Down do cantor Al Jarreau, Planet Rock de Afrika Bambaataa & Soul Sonic Force, Eletric Kingdom de Twilight 22 e vários outros sucessos.

A Hidra Urbana desembarca na maloca

Nos finais de semana quem passeava ou apenas transitava pelas principais praças de Manaus deparava-se com jovens dançarinos imitando um robô, transmitindo a ilusão de uma descarga de choque elétrico ou caminhando como os astronautas na lua. Eram os primeiros passos da dança break em terras manauaras. A onda da dança break virou febre em várias capitais brasileiras e Manaus não foi diferente. A juventude influenciada pelos vídeos e filmes estrangeiros, mesmo de uma forma amadora e improvisada começou a praticar os primeiros passos desta nova forma de expressão corporal.


As casas noturnas de meados da década de 1980 como Bancrevea Clube e Cheik Clube, transformaram-se nos pontos de encontro dessa galera praticante da dança. A Praça da Saudade, Praça da Matriz também foram os espaços prediletos para as apresentações e disputas entre o b. boys manauaras.


Apesar da falta de conhecimento quase total da cultura hip hop por parte da maioria dos praticantes do breakdance e o break ser o elemento mais difundido entre a garotada da época, a juventude manauara iniciava um capítulo importante da história cultural da cidade banhada pelo Rio Negro.


Manuel Frank Silva Matos conheceu o hip hop aos 14 anos e logo foi tomado pela cultura das ruas. Nascido e criado na zona leste de Manaus foi DJ e rapper da banda {C}rime Organizado em conjunto de Ney (o autor) e DJ Afrika (Kleber Vieira). FK é acadêmico de Contabilidade e nos diz como foram seus primeiros contatos com a cultura no início da década de 1990:

(...) e o rap foi contagiando com as verdades que eram ditas né mano, com o que acontecia no nosso cotidiano. Pânico na zona sul (música dos Racionais Mc’s) ele vinha retratando uma rotina nossa, já ali na periferia, com problemas sociais encontrados, essa foi minha infância e eu falo até que, eu tinha quatorze anos de idade, eu carregava água no patinete para atender as necessidades da minha mãe, hoje com 33 anos de idade a gente ainda carrega água lá. Inclusive esse fato de falta de água no bairro de São José, inclusive já colocou três vereadores no poder e até hoje coloca e é impressionante é o quanto que a minha área não desenvolveu socialmente. E eu ainda vejo as mesmas coisas, pouca mudança, a própria juventude, a busca pelo novo conhecimento.


FK reconhece a importância da cultura hip hop para a transformação social do sujeito.

E o hip hop pra mim naquela época foi uma grande força, tipo assim, eu consegui ouvindo rap, no hip hop viver uma realidade sem ter visto, a experiência, eu não preciso viver o mundo das drogas pra mim ter essa experiência, o rap já mim transmitia isso e com isso já consegui mim afastar e consegui enxergar um novo horizonte, um novo rumo a seguir, comprar livros, procurar uma profissão, um trabalho. Seguir uma trajetória certa e não parar em uma penitenciária.

Com as posições sérias que sempre foram sua principal característica, FK relata a necessidade de organizar o movimento em Manaus.

Em 1994 houve a explosão do hip hop aqui nas mídias, nas grandes camadas, tinha um grupo chamado... tinha o Gabriel, O Pensador e foi surgindo outros grupos que cantavam rap na mídia. Aí o rap começou a pegar moda até e a gente também aqui, já tinha uma grande massa que curtia, tinha o pessoal do break, tinha o pessoal que tava ouvindo rap e tal e precisava ter uma organização, precisava ajeitar isso aí, a casa precisava se organizar (...) Uma entrevista do MH2O, movimento do Ceará e aí surgiu a ideia de criar (...) Vamos criar o nosso e nessa entrevista eles falavam de organização, chegar como eles conseguiam o apoio da prefeitura, da parte cultural, como eles conseguiam o apoio dos empresários e tal e vamos criar a nossa, aí o Ney, eu e o Guila e chegamos com um cara que na época, que influencia, o Maiko e vamos levar a ideia e difundimos e agora vai ser M.H.M. E aí o M.H.M começou a chamar os grupos, ao invés de a gente ficar naquelas batalhas de b.boy, briga e tal, a gente passou a fazer diferente, vamos trabalhar para divulgar esse movimento.

Em 1998 {C}rime Organizado gravou um pequeno trabalho denominado Diálogos de Chumbo que continha seis músicas e apresentava letras que marcaram pela agressividade nas denúncias das mazelas sociais das periferias manauaras.
Com um curriculum que ultrapassa vinte anos de arte de rua, Rogério Arab, 37 anos é consagrado como uma figura muito importante no M.H.M. Arab, como assina seus trabalhos, começou sua jornada no movimento hip hop em 1999, através do convite do b. boy Art. Segundo ele, “a partir daí comecei um trabalho é, ligado ao grafite artístico, socialmente também, com oficinas, palestras e tal e nunca deixamos de lado o trabalho cultural né, o tradicional do grafite que são as pinturas artísticas que estão espalhadas pela cidade”.


Arab relata seus primeiros passos dentro dessa vertente do movimento hip hop e o início de sua carreira como artista reconhecido no grafite. Segundo ele:

A minha história com o grafite, com a escrita urbana ela vem de 1988 precisamente 1989, através da pichação por que na capital onde eu nasci e morei durante a década de 1980 era Belém e a cultura da pichação sempre foi muito forte e na época que eu comecei a me entender na adolescência já existia essa cultura lá, já era uma coisa que dominava praticamente todos os bairros é, então tinha tios, primos, colegas que já tinham sido pichadores e tavam envolvidos no movimento, então era uma influência muito forte, muito próximo do que a gente via.

Explica que a arte das latas de spray começou no Rio de Janeiro na década de 1970 e espalhou-se pelo Brasil inteiro e deixa claro que pichação também é grafite. No Brasil existe uma tentativa de marginalizar o picho e a defesa do grafite.
Arab é hoje um dos mais respeitados artistas plásticos das paredes e muros de Manaus. Sua história começa na cidade de Belém no Pará. Começou como pichador e hoje ministra aulas sobre a arte do grafite, principalmente em escolas públicas localizadas nas periferias. E não é difícil encontrar seus traços expostos pelos muros da metrópole encravada na hinterlândia amazônica e banhada pelas águas do Rio Negro. Arab faz questão de deixar claro que as principais diferenças entre o ato de pichar e a grafitagem e é um dos maiores defensores do grafismo como arte urbana.

(...) aqui separam o grafite da pichação mas lá na Europa, nos Estados unidos ela é a mesma coisa tanto em questão visual como em questão de leis(...) a idéia que o grafite é arte e a pichação é vandalismo mas no fundo a gente sabe que é tudo a mesma coisa, a diferença é estética. No grafite você vê desenhos, técnicas, cores e vários estilos e na pichação você vê apenas traços, letras, caligrafismo, mas também existe estilo, certa técnica pra fazer pichação também.


Silvio de Souza e Silva, 38 anos, industriário, amazonense do município de Autazes é o verdadeiro nome de S. Preto. S. Preto chegou a Manaus no ano de 1989 para trabalhar e não demorou em ser fisgado pelas coreografias da street dance (dança de rua).

(...) sempre me identifiquei com o negócio do Soul, da dança, então eu fui vendo isso. Então eu vim pra cá com 15 anos para Manaus e não tinha muita opção aí, é Cheik Clube não tinha jeito, Miami (Bass) , aquele negócio todo, os cara dançando break. Lá eu conheci o Guilherme (Guila) e o Maiko né e formamos um grupo de dança chamado DMD.

S. Preto narra os primeiros contatos com o rap nacional no ano de 1994. “O rap falado, a gente vinha conhecendo Thaíde, Racionais essas coisas todas aí, pessoal muito importante no movimento, e aqui a gente formou o DMD dança e depois veio o canto, cantar, rimar essa coisa toda. Em 2000 veio os Cabanos (...)”. Hoje S. Preto integra uma das maiores bandas de rap do Estado, os Cabanos. Os Cabanos gravaram o cd A idéia não morre em 2008 com os rapper’s Guila, Nego Juca, Nego Elio e o DJ Marcos Tubarão. No início da década de 1990 S. Preto relata a falta de informação e a confusão sobre os elementos do hip hop.

Quando a gente começou, tu lembra que hip hop a gente falava rap e hoje, o hip hop é o rap, é o b.boy, o DJ né, é o cara que tá envolvido aí. Se lembra quando a gente fazia o lado social, quando a gente fez lá na Mamãe Margarida aquela festa para arrecadar alimentos.

Isto também demonstra a preocupação social que deu origem ao movimento organizado na tentativa de contribuir com instituições necessitadas. Atualmente o rapper S. Preto reside em Boa Vista, capital do Estado de Roraima.


Marcos da Silva, paranaense, 41 anos, o DJ Marcos Tubarão iniciou sua carreira como dançarino de break nos meados dos anos oitenta em grupo chamado Irmãos Cobra. “a gente não sabia muito o que era hip hop” e a informação veio através da sétima arte, “Breakdance , o Beat Street e Wild Style , então esses três filmes que projetou a dança por meio do cinema”. Mas ressalta que “no Brasil mesmo teve aquele estouro do break, a partir da novela, uma novela chamada Partido Alto, uma novela de 1984 que passava na TV Globo, a própria abertura trazia uma coreografia de break”. Seu papel foi fundamental para criação do movimento organizado em 1994 em conjunto com Maiko na produção dos eventos do M.H.M.


Segundo Tubarão o esfriamento da onda break fez com que seus seguidores procurassem novos espaços para seus encontros e suas demonstrações, além do mais a chegada da House Music modificou o cenário musical da época, pois segundo Tubarão:

(...) as casas noturnas tipo Cheik, Bancrevea, começou a encher muito, os salões e os donos de festas começou a ganhar muito dinheiro e os cara simplesmente mandava fechar, fechar as rodas de break na porrada mesmo, não abria a roda. Por que a roda aberta já era um público menor, menos dinheiro na parada. Os mesmos seguranças que abriam as rodas nos anos 1980 eram os que fechavam na década de 1990. Por isso aí, por falta de espaço, por busca de originalidade, mais um som original e também por receber os primeiros grupos de rap, já ta no mesmo contexto de evento, grupo de rap, grupo de b.boy e tal, DJ e tal e aí surge o M.H.M., a proposta de M.H.M.


A delimitação dos lugares fez com que os primeiros bailes de hip hop fossem direcionados para áreas mais distantes do centro da cidade, principalmente leste, oeste e norte. Escolas públicas, associações de moradores, clubes menores, quadras poliesportivas viraram palco para os primeiros encontros do M. H. M. O anseio de mostrar a arte reuniu diversos jovens em torno da sigla. A Escola Municipal Waldir Garcia no bairro de São Geraldo foi um dos espaços mais frequentados pela turma do hip hop nos primeiros anos e recebeu a “carinhosa” alcunha de Capão Redondo . O espaço escolar foi bastante utilizado pelos hip hopper’s, diversos bailes foram promovidos na quadra da Escola Municipal Alfredo Linhares no bairro de São José Operário I. Além de promover as ideias do hip hop, ocupar o espaço escolar foi decisivo no processo educacional de diversos discentes e uma maior aproximação com a comunidade escolar e moradora destas regiões.


Tubarão relata que a idéia para organizar o movimento “veio da zona leste, lá do {C}rime Organizado, do grupo DMD, juntando a turma da zona oeste, que era o grupo do Lúcio” trazendo “a intenção de organizar os grupos, criar mais espaços, uma coisa mais original e não empurrar o som goela abaixo e dizer que serve para dançar break.”


O disque-jóquei considera a data de 1º de abril de 1994 o marco inicial para a nomenclatura.


O hip hop assim como a Hidra teima em não morrer, mesmo recebendo golpes quase mortais, não deixa de resistir. Como cultura que nasceu nos becos, nas ruas, nas vielas, nas favelas e baseia-se na criatividade de seus seguidores que demonstram toda sua capacidade de transformação e adequação às mudanças dos novos dias. Mesmo sabendo que o futuro apresenta-se como uma incógnita, há resistência.


No entanto, O M.H.M. em seus quase vinte anos de atividades não pára e a Hidra Urbana continua o seu combate e os campos de batalha são as “quebradas” de todo o Brasil.

Conclusão

Milito na cultura hip hop desde os primeiros anos de 1990 e colaborei com a criação do movimento organizado na cidade de Manaus e isto é motivo de muito orgulho. Rever “parceiros”, entrevistar, trocar experiências e relembrar histórias divertidas que estavam guardadas em nossas memórias foi muito gratificante.


Preciso deixar claro que não esgotei e não esgotarei este tema. Este é apenas um pequeno esforço neste resgate histórico de um movimento atual, vivo e que envolve centenas de jovens nas periferias da metrópole dos Manaós. Paz para as ruas!

*Sidney Barata de Aguiar - Professor da rede pública de educação do Estado do Amazonas e do município de Manaus. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Secretário de Organização do SINTEAM. Contato: aguiar_sidney@yahoo.com.br

I - O Historicismo: realismo e relativismo no século XIX.

O Século XIX é denominado por alguns pensadores como o "século da História" em clara e franca oposição ao século XVIII que seria o século das luzes e da filosofia. Durante os oitocentos surgem três grandes paradigmas historiográficos e que são fundamentais para o desenvolvimento da História enquanto ciência: Positivismo, que já abordamos, Historicismo, que iremos iniciar nossas análises a partir deste texto e o Materialismo Histórico que abordaremos em momento oportuno.

Para José D’assunção Barros (2011, p. 64) o século XIX pode ser caracterizado pelo debate que se realizou em torno da História: a oposição entre objetividade e subjetividade. Décadas de confronto entre positivismo e historicismo marcam o século XIX, “o século da História”, além é claro do surgimento de uma nova teoria da História que ganharia força no século XX: o Materialismo Histórico. (2011, p. 64).

A já constatada oposição entre positivismo e historicismo de acordo com Barros se dá em três níveis distintos: o primeiro relacionado a questão da dicotomia objetividade/subjetividade, no que se relaciona a possibilidade ou não da História encontrar “leis gerais” para todas as sociedades humanas, o segundo ponto relacionado ao padrão metodológico a ser adotado como mais adequado a História (o modelo das ciências naturais ou um padrão específico das ciências humanas?) e por último e não menos importante a posição do historiador face ao conhecimento que produz (neutro, subjetivo ou engajado na transformação social?) (Barros, 2011, p. 64-5).

Importante se faz destacar que enquanto paradigma o positivismo já estava praticamente pronto desde meados do século XIX, graças a influência significativa da ilustração, ou seja, o positivismo herda traços e pressupostos iluministas, apesar da inversão que muitas vezes ocorre em sua aplicação social levando o primeiro a um certo conservadorismo.

O historicismo, entretanto constrói seu paradigma durante o século XIX a partir, num primeiro momento de influências isoladas (autores como Herder e Vico) além de determinadas contribuições de pesquisadores vinculados a teologia e filologia. Para os primeiros historicistas, nada está pronto e conforme atesta José D’Assunção Barros: “O Historicismo ainda precisará construir a si mesmo, estendendo contribuições diversas em um arco que irá de Ranke – ainda preocupado em ‘narrar os fatos tal como eles aconteceram’ – até Droysen e Dilthey, historicistas relativistas que já se preocupam e trazer à historiografia uma reflexão sobre a subjetividade do próprio sujeito que constrói a história (...)” (2011, p.67)

O historicismo se desenvolve na Alemanha e se expande para outros países europeus e para as Américas no contexto direto da afirmação dos Estados Nacionais do século XIX. Se presta de acordo com José Barros, a representar o conservadorismo da burguesia industrial encastelados na burocracia estatal nascedoura. Duas grandes questões são postas aos historicistas alemães: realizar a unificação de um vasto território e o encaminhamento de uma modernização sem riscos revolucionários.

Barros afirma que a escola historicista alemã se apresente como sustentáculo das estruturas da Monarquia Prussiana e que esta foi a financiadora do projeto nacional historicista. (2011, p. 108).

O autor esclarece ainda o contexto do surgimento do historicismo alemão: “De modo geral, no contexto da Restauração e em virtude de viscerais oposições entre alemães e franceses, os historiadores da Escola Histórica Alemã eram críticos da Revolução Francesa, e ao lado disto não desprezavam as épocas anteriores, inclusive a Idade Média, como haviam feito os iluministas do século XVIII” (Barros, 2011, p. 108)

Para Barros: “Herder ou Vico, que já estavam no século XVIII atentos à relatividade das sociedades humanas contra a tendência predominante na intelectualidade da época, o iluminismo, que tendia a pensar a Natureza Universal do Homem e uma história ‘universalizante’, e não ‘particularmente’. (Barros, 2011, p. 65).

Este será uma das maiores oposições entre positivismo e historicismo que veremos no início do século XIX, pelo menos na fase “realista” do historicismo alemão. Positivismo e historicismo para Barros foram frutos de uma necessidade de época representada pelo paradoxo de encaminhar uma modernização política que viabilizasse o desenvolvimento industrial que atendessem as exigências da burguesia e ao mesmo tempo preservar alguns privilégios sociais da nobreza. Entretanto esta necessidade em como gerou respostas diferentes. Para o autor o positivismo busca a ideia do universalismo e o historicismo alemão buscava o consenso social a partir da ideia do nacionalismo.

Barros afirma: “(...) o Particularismo Histórico proposto pelo Historicismo Alemão logo se oporá menos ou mais radicalmente ao Universalismo Positivista. De igual maneira, ao ‘homem universal’ que um dia fora objeto de estudo dos iluministas, e que agora reivindicado como conceito central pelos positivistas do século XIX, o Historicismo opunha o ‘indivíduo concreto’, particular, histórico e sujeito à finitude.” (2011, p. 110)



(Continua)

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O Positivismo: Primeiro grande paradigma da História


Todo estudante de história, seja universitário ou do ensino de base já se deparou com este bom e velho paradigma (do século XIX) ao qual muitos denominam de positivismo, de acordo com a definição do seu fundador August Comte.

Durante a faculdade o maior temor dos acadêmicos é justamente o estudo de teoria. Alguns a classificam como massante, outras de difícil apreensão. Para mim, concordando com a assertiva do professor Mauro Cézar Coelho, Teoria (ele se referia a disciplina em uma de suas palestras sobre Amazônia Colonial) é a melhor parte da História, pois é a partir do estudo da Teoria que expressamos nossa visão de mundo. 

Sabias palavras do mestre já que Teoria em seu significado original está vinculado a "ver" e na antiguidade siginificava "visão de mundo".

O positivismo deixou sua marca profunda na História, que nascia como ciência no século XIX, influenciada grandemente pelo cientificismo da época. As chamadas ciências sociais utilizando-se de aportes teóricos do iluminismo acabaram determinando uma virada radical no "fazer história" do século XIX.

Antes a História em si, durante o período moderno, servia como justificativa para uma história nacional, quase apologética dos feitos e da linhagem de nobres e reis, ou em período anterior sendo vista apenas como ramo menor da literatura.

O status de cientificidade da História ganha força a partir do momento que o racionalismo científico é utilizado pelos positivistas dentro das primeiras pesquisas historiográficas. Portanto apesar de hoje bastante criticado o paradigma positivista tem seu mérito: ser o primeiro grande paradigma (junto com o historicismo) durante o século XIX.

Mas qual a grande influência do positivismo até aquele momento? De acordo com José D'Assunção Barros o positivismo é bastante influenciado pelo movimento filosófico iluminista, onde destaca-se a visão universalista de mundo. O racionalismo construído a partir da experimentação somava-se agora a ideia clara de busca de leis gerais que regulavam a natureza e portanto determinariam os acontecimentos, cabendo ao historiador apenas a busca destas leis gerais.

O positivismos portanto pauta-se pelo racionalismo, por uma busca da verdade absoluta em virtude da visão de que a história é regida por leis gerais e claro uma objetividade que se baseava na própria noção de fonte histórica: a fonte oficial era a garantia da veracidade do que ela descrevia.

A história que se pauta pelo paradigma positivista é por assim dizer narrativa, política, pautada nos grandes feitos e nas datas, influenciou significativamente a história nacional e no Brasil teve seu destaque em virtude das pesquisas realizadas pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, fundando pelo Imperador Dom Pedro II ainda no século XIX.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

O Cinco de Setembro para o Amazonas



O Cinco de Setembro abre para o calendário escolar as atividades da chamada semana da Pátria. Os mais saudosos lembram dos tempos áureos onde as escolas públicas de nome e de peso organizavam seus desfiles cívicos. Tempos em que a “Educação Moral e Cívica” andava de mãos dadas a “Organização Social e Politica do Brasil”. A construção de uma identidade nacional passou a estar vinculada a glorificação de um passado glorioso, onde grandes heróis e datas cívicas eram comemoradas e lembradas por todos.

Mas o que se comemora neste cinco de setembro?

O cinco de setembro marca o início da autonomia para a então Comarca do Alto Amazonas. Administrativamente o que é hoje o Estado do Amazonas era apenas uma área subordinada a então Província do Grão-Pará. Com a Lei n. 582 de 5 de setembro de 1852 efetivou-se a separação da Comarca do Amazonas, que passou a se denominar Província do Amazonas, com autonomia política frente ao Grão-Pará. Ou seja, do ponto de vista político é o nosso “grito de independência”.


A data marca, do ponto de vista cultural, o início do processo de formação da própria identidade da sociedade amazonense, que oscilou durante a virada do fim do período colonial e a adesão à independência como um entreposto comercial da cidade de Belém, ou mero “sertão” onde se buscavam produtos tropicais e mão-de-obra indígena. Com a instalação da Província e a necessidade de se criar um aparelho estatal na região há o crescimento da cidade de Manaus, aumento da circulação de estrangeiros, além do início de um novo crescimento econômico, que o Amazonas havia experimentado no final do século XVIII.

A sociedade amazonense do século XIX era formada por uma imensa maioria de índios (em média mais de 60% da população, seguida bem de longe por tapuios, mestiços e uma minoria de negros escravos). A necessidade do controle do grande vale Amazônico, tanto em relação a navegação do Rio Amazonas, quanto do controle da mão-de-obra local, os índios, motivaram o Império a dar autonomia política para o Amazonas.

De acordo com o Professor Ribamar Bessa: “A criação da Província do Amazonas permitiu que a elite econômica local organizasse a exploração da mão-de-obra, formada fundamentalmente por índios.”

Era de suma importância para os grandes negociantes instalados na cidade da Barra (atual Manaus) o controle da mão-de-obra indígena. Como afirma o Professor Bessa:

“Em 1850, cerca de 60% da população recenseada do Amazonas era constituída por índios aldeados. (...). Se o índio não trabalhasse, ninguém comia no Amazonas e as atividades econômicas ficariam totalmente paralisadas.”

O Mundo do trabalho aparece ao lado de uma ideologia de controle e disciplina dos grupos étnicos propensos ao labor: índios, negros, mestiços e escravos. A noção de civilização passava, portanto pelo embranquecimento da população e claro pelo rígido controle da mão-de-obra, seja compulsória como no caso dos índios, seja escrava, como no caso dos negros, pardos e mulatos.

Os deputados da Assembleia Legislativa Provincial representavam a minoria branca e na terceira sessão da primeira Assembleia Legislativa provincial votam o primeiro projeto que demonstra o interesse das elites locais em relação a criação do novo aparelho estatal na região:


“Art. 1 - Fica livre a todo morador poder ir contratar a troca dos indígenas bravios com os principais das nações selvagens.

Art. 2 - Feita a troca, o individuo apresentar-se-á com os indígenas perante o Juiz de Paz mais vizinho para assinar um termo de educação por espaço de dez anos.

Art. 3 - Concluidos os dez anos, de que trata o artigo antecedente, poderá o índio ser aldeano.

Art. 4 - Impor-se-á a multa de 100 mil réis e 20 dias de prisão a todo solicitador de índios de casa de seus amos; os aliciados serão obrigados por qualquer autoridade judiciária ou militar a voltarem para casa dos referidos amos.”

Marchamos por quê no dia cinco de setembro? Comemoramos o que? A história como sabiamente alerta o historiador britânico Eric Hobsbawm serve para lembrar o que muitos gostariam de esquecer.