quarta-feira, 26 de setembro de 2012

I - O Historicismo: realismo e relativismo no século XIX.

O Século XIX é denominado por alguns pensadores como o "século da História" em clara e franca oposição ao século XVIII que seria o século das luzes e da filosofia. Durante os oitocentos surgem três grandes paradigmas historiográficos e que são fundamentais para o desenvolvimento da História enquanto ciência: Positivismo, que já abordamos, Historicismo, que iremos iniciar nossas análises a partir deste texto e o Materialismo Histórico que abordaremos em momento oportuno.

Para José D’assunção Barros (2011, p. 64) o século XIX pode ser caracterizado pelo debate que se realizou em torno da História: a oposição entre objetividade e subjetividade. Décadas de confronto entre positivismo e historicismo marcam o século XIX, “o século da História”, além é claro do surgimento de uma nova teoria da História que ganharia força no século XX: o Materialismo Histórico. (2011, p. 64).

A já constatada oposição entre positivismo e historicismo de acordo com Barros se dá em três níveis distintos: o primeiro relacionado a questão da dicotomia objetividade/subjetividade, no que se relaciona a possibilidade ou não da História encontrar “leis gerais” para todas as sociedades humanas, o segundo ponto relacionado ao padrão metodológico a ser adotado como mais adequado a História (o modelo das ciências naturais ou um padrão específico das ciências humanas?) e por último e não menos importante a posição do historiador face ao conhecimento que produz (neutro, subjetivo ou engajado na transformação social?) (Barros, 2011, p. 64-5).

Importante se faz destacar que enquanto paradigma o positivismo já estava praticamente pronto desde meados do século XIX, graças a influência significativa da ilustração, ou seja, o positivismo herda traços e pressupostos iluministas, apesar da inversão que muitas vezes ocorre em sua aplicação social levando o primeiro a um certo conservadorismo.

O historicismo, entretanto constrói seu paradigma durante o século XIX a partir, num primeiro momento de influências isoladas (autores como Herder e Vico) além de determinadas contribuições de pesquisadores vinculados a teologia e filologia. Para os primeiros historicistas, nada está pronto e conforme atesta José D’Assunção Barros: “O Historicismo ainda precisará construir a si mesmo, estendendo contribuições diversas em um arco que irá de Ranke – ainda preocupado em ‘narrar os fatos tal como eles aconteceram’ – até Droysen e Dilthey, historicistas relativistas que já se preocupam e trazer à historiografia uma reflexão sobre a subjetividade do próprio sujeito que constrói a história (...)” (2011, p.67)

O historicismo se desenvolve na Alemanha e se expande para outros países europeus e para as Américas no contexto direto da afirmação dos Estados Nacionais do século XIX. Se presta de acordo com José Barros, a representar o conservadorismo da burguesia industrial encastelados na burocracia estatal nascedoura. Duas grandes questões são postas aos historicistas alemães: realizar a unificação de um vasto território e o encaminhamento de uma modernização sem riscos revolucionários.

Barros afirma que a escola historicista alemã se apresente como sustentáculo das estruturas da Monarquia Prussiana e que esta foi a financiadora do projeto nacional historicista. (2011, p. 108).

O autor esclarece ainda o contexto do surgimento do historicismo alemão: “De modo geral, no contexto da Restauração e em virtude de viscerais oposições entre alemães e franceses, os historiadores da Escola Histórica Alemã eram críticos da Revolução Francesa, e ao lado disto não desprezavam as épocas anteriores, inclusive a Idade Média, como haviam feito os iluministas do século XVIII” (Barros, 2011, p. 108)

Para Barros: “Herder ou Vico, que já estavam no século XVIII atentos à relatividade das sociedades humanas contra a tendência predominante na intelectualidade da época, o iluminismo, que tendia a pensar a Natureza Universal do Homem e uma história ‘universalizante’, e não ‘particularmente’. (Barros, 2011, p. 65).

Este será uma das maiores oposições entre positivismo e historicismo que veremos no início do século XIX, pelo menos na fase “realista” do historicismo alemão. Positivismo e historicismo para Barros foram frutos de uma necessidade de época representada pelo paradoxo de encaminhar uma modernização política que viabilizasse o desenvolvimento industrial que atendessem as exigências da burguesia e ao mesmo tempo preservar alguns privilégios sociais da nobreza. Entretanto esta necessidade em como gerou respostas diferentes. Para o autor o positivismo busca a ideia do universalismo e o historicismo alemão buscava o consenso social a partir da ideia do nacionalismo.

Barros afirma: “(...) o Particularismo Histórico proposto pelo Historicismo Alemão logo se oporá menos ou mais radicalmente ao Universalismo Positivista. De igual maneira, ao ‘homem universal’ que um dia fora objeto de estudo dos iluministas, e que agora reivindicado como conceito central pelos positivistas do século XIX, o Historicismo opunha o ‘indivíduo concreto’, particular, histórico e sujeito à finitude.” (2011, p. 110)



(Continua)

Nenhum comentário:

Postar um comentário